Sicko


Hesitei muito antes de criar um novo blog pessoal. Pensei, repensei, reanalisei cada um dos prós e dos contras. Porém, fui vencida pela necessidade. Sim, pela necessidade de escrever. Tem horas em que eu tenho a impressão de que vou sufocar se não botar pra fora — em forma de texto, é claro — o que estou pensando ou sentindo.
Por isso, aqui está meu milésimo mais novo blog. Esperamos que, desta vez, ele tenha vida longa e produtiva.
Pois bem, sem mais blá blá blá, quero comentar sobre um excelente documentário a que assisti, do polêmico Michael Moore: Sicko, um relato sobre o sistema de saúde norte-americano. Ou melhor, sobre a falta dele.
Até então, eu não conhecia o trabalho de Moore — sim, sinto vergonha em dizer isso. Mas, com certeza, já me tornei uma grande fã dele. E, assim que possível, assistirei aos outros documentários.
Bem, mas tratando especificamente do Sicko, quero registrar o quanto me chocou a revelação de que os Estados Unidos simplesmente não têm um sistema universal de saúde. Pois é, admito, eu não sabia. Logo no início do documentário, pensei: “e a gente ainda fala mal do Brasil…”. É, convenhamos que o Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro não é nenhuma maravilha, porém existe e, salva a precariedade, funciona.
Parece ironia e é até difícil acreditar que, na maior potência do mundo, as pessoas que não podem pagar por um plano de saúde simplesmente têm de rezar/contar com a sorte para nunca ficar doentes ou sofrer um acidente. Caso contrário, ou arrumam dinheiro sabe-Deus-de-onde, ou morrem. Simples assim.
Sem querer divulgar spoiler — mas assistam, vale a pena —, mas no início do documentário ele mostra um cara que corta fora as pontas de dois dedos, o anular e o médio. Aí, quando ele chega ao hospital, como não tem plano de saúde, tem a “opção” de pagar US$ 12 mil para restaurar o anular, ou “apenas” US$ 60 mil para recompor o dedo médio.
Porém, o mais indignante em tudo o que é mostrado, por incrível que pareça, é como os pacientes que pagam pelos planos de saúde são tratados. Em síntese, as chamadas seguradoras de saúde são, se não uma grande máfia, empresas desprezíveis, cujo único objetivo é, descaradamente, a obtenção de lucro. Algumas delas não fazem questão de sequer tentar oferecer um tratamento mínimo aos seus pacientes.
As histórias de pessoas que necessitam de atendimento médico e acabam, muitas vezes, morrendo pela falta de assistência hospitalar são chocantes. E os absurdos vão desde a realização de simples exames até cirurgias ou tratamentos mais complexos — como a quimioterapia — que, certamente, salvariam muitas vidas.
Sem ao menos analisar o caso dos pacientes, as seguradoras rejeitam os serviços solicitados. E não se preocupam sequer em dar um motivo plausível. Ignoram solenemente o problema das pessoas e afirmam, por meio de cartas padronizadas, que a doença “não justifica” a realização de tal exame, ou tal tratamento. Ou seja, mesmo as pessoas que pagam caro pelos serviços de saúde não o têm.
Como se não bastasse, não é qualquer um que consegue contratar um plano de saúde. Sim, tem mais isso. Quando o cliente procura a seguradora, passa por infindáveis entrevistas e, caso tenha uma doença pré-existente — que pode ser uma coisa totalmente sem relevância médica —, é recusado. Ou seja, somente pessoas completamente saudáveis parecem ter o direito.
Após mostrar os desmandos das seguradoras, cuja atuação parece não ter qualquer regulamentação governamental, Michael Moore compara o “sistema” norte-americano ao de países como o Canadá, França e Grã-Bretanha. Nem preciso quão abismal é a diferença. Mas o maior “tapa na cara” se dá quando um grupo de socorristas que foram voluntários no 11 de setembro, que não conseguem atendimento de jeito algum nos EUA, vai até, pasmem, Cuba — sim, do ditador Fidel Castro —, e recebe tratamento digno. Isso sem mencionar a violência que é a diferença de preços dos medicamentos vendidos na “pobre” ilha, e na riquíssima potência. Como se não bastasse, parece que as indústrias farmacêuticas americanas também praticam lucros abusivos.
A conclusão — óbvia, por sinal — a que se chega é que, nos Estados Unidos, um sistema universal gratuito de saúde não existe não por falta de capacidade de implantação, seja ela técnica, científica ou financeira. Mas, sim, porque os interesses políticos e corruptos são imensos. Uma verdadeira conspiração, eu diria. Só para não me prolongar mais, quero recomendar que assistam ao documentário. Porém, só posso garantir que, ao final, a reação é, no mínimo, de indignação.

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