Estranhos


Dividiam uma casa, mas não passavam de estranhos.
Conversavam o mínimo necessário. Apenas assuntos triviais.
Ela não dizia para ele que às vezes tinha pesadelos.
Ele não contava para ela que o trabalho estava a cada dia pior.

Dividiam as contas, mas não mais dividiam sonhos.
Nem mesmo o café da manhã.
As mensagens que trocavam tratavam apenas de providências cotidianas.
Nenhuma palavra de amor. Nenhum carinho antes de dormir.

breakup

Ele pagava o aluguel, ela pagava a prestação do carro.
Tinham papel assinado e tudo.
Mas, entre os dois, o silêncio era sepulcral.
Os almoços eram burocráticos e sempre com o mesmo gosto. Amargo.

A presença de um não fazia mais companhia ao outro.
E vice-versa.
Os sorrisos estampados nas fotografias já faziam parte de um passado muito distante.
As alegrias, agora, eram apenas individuais – sempre encontradas em válvulas de escape externas.

Ela sentia um vazio a cada dia maior.
Ele sentia-se possuído pela solidão.
O abismo entre os dois só fazia aumentar.
O “felizes para sempre” havia se transformado em prisão perpétua.

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