Comecei a assistir 13 Reasons Why pelo hype, admito. Tenho essa curiosidade quase incontrolável de estar minimamente por dentro das séries “do momento”, e vi muita gente comentando, então, sem muita pretensão, apenas comecei a ver. Desde o primeiro episódio já fiquei vidrada. E explico o porquê.
Antes de prosseguir, gostaria apenas de esclarecer que este não é um post de crítica ao seriado, como pode-se encontrar em inúmeros blogs por aí. Este é um texto, quase um desabafo, sobre a minha reflexão e o que eu senti assistindo à série. Também cabe explicar que eu não li o livro, então também não vou julgar a adaptação.
Este post pode conter spoiler, então… a partir daqui, é por sua conta e risco.
A série começa, apesar de todos sabermos tratar-se de um suicídio, até relativamente leve. Os primeiros episódios são mais de ambientação, são mais suaves, tanto que vi muita gente comentando que não achou “tudo isso”. Pois bem. Apesar disso, eu continuei vendo porque desde o episódio 1 (Fita 1, lado A), eu me senti presa à trama. Não porque seja um roteiro genial ou uma superprodução – não é -, mas porque eu não conseguia parar de pensar que, para Hannah ter se matado, pouca coisa não poderia ser. Eu imaginava que o pior estaria mais para a frente. E está.
Apesar de o ritmo ser meio lento às vezes (porra, Clay, como que tu pode demorar tanto pra ouvir as fitas?), a meu ver, os temas tratados são muito fortes e importantes. Desde o começo, todos sabemos tratar-se de um suicídio, não há surpresa alguma ali. Mas, o que não conseguimos prever é o quanto uma história aparentemente construída para um público juvenil aplica-se, na verdade, a muita gente.
Ao contrário do que pode parecer, não é uma série fútil, muito menos infantil. Sexting, bullying, misoginia, assédio sexual, homofobia, estupro, entre outros temas pesados – inclusive o amor e os relacionamentos abusivos – são apresentados paulatinamente na série, e vão nos envolvendo num enredo que, em vários momentos me levou às lágrimas.
Quando se fala em machismo, por exemplo, em objetificação da mulher, a primeira coisa que vem à cabeça, normalmente, são os movimentos feministas – que, aliás, sofrem muito preconceito. Para muita gente, feminismo é “mimimi” e “o mundo está muito chato”. Mas, quando somos levados e enxergar isso através dos sentimentos da protagonista, que é abusada não uma nem duas vezes, mas, sim, diversas vezes, de diversas formas – inclusive sendo estuprada -, é que conseguimos entender o quão graves são essas situações que, infelizmente, são comumente banalizadas.
Para quem é mulher, obviamente, a sensação é mais familiar, mas, por ser a protagonista tão jovem, tão ingênua, tão cheia de sonhos, a forma como sua pureza é destruída é de uma brutalidade que dói. E a série mostra isso sem sequer levantar a bandeira do feminismo nem nada do gênero.
Em diversos momentos da série, seus colegas a classificam de problemática, de dramática, a acusam de estar querendo somente chamar a atenção. Este é outro ponto muito importante da trama, a meu ver: a solidão. Fica muito evidenciado, o tempo todo, o quanto muitas vezes pessoas que passam por situações difíceis precisam de ajuda, mas não sabem como procurar – ou, se procuram, não recebem. Na série, não se toca no assunto “depressão” propriamente dito, mas creio ser um pouco a tônica da história de Hannah. Nova na escola, socialmente desajeitada, incompreendida, ingênua e continuamente abandonada e magoada pelas pessoas que ela considerava amigas, sua agonia e melancolia só aumentam.
Não é frescura, não é drama adolescente. É a vida real. Vale para adultos, para idosos, para pessoas de todas as idades. Através dos personagens, ambientados numa escola de Ensino Médio dos Estados Unidos, temos uma metáfora perfeitamente aplicável a outros ambientes e faixas etárias. Porque as formas de abuso e de violência mudam, mas o ser humano muitas vezes segue sendo cruel, egoísta, covarde, primitivo, mau.
E assim, de fita em fita, de episódio em episódio, presenciamos uma sucessão de acontecimentos que vão derrubando a autoestima de Hannah, roubando sua alegria, destruindo sua vontade de viver, e, por fim, culminando em seu suicídio. Do primeiro ao 13º episódio, a série vai crescendo em intensidade, nos deixando cada vez mais envolvidos, indignados e, ao mesmo tempo, profundamente tristes.
O que também toca muito é o sofrimento de seus pais, que perdem a única filha da forma mais trágica possível. Isso me levou a refletir muito sobre o quanto às vezes a comunicação entre pais e filhos é difícil, sobre o tanto de barreiras e tabus que às vezes existem e que muitas vezes empurram as pessoas – especialmente as mais jovens – para um abismo e para uma solidão cada vez maior.
Acho que um resumo justo seria dizer que todo mundo sofre, todo mundo tem problemas, mas ter pessoas que se importam conosco ajuda – e muito – a aliviar esses fardos. A importância da amizade aparece em igual pé de importância com os demais temas. A vida em grupo é difícil, realmente, e às vezes pode ser torturante passar por isso sozinho.
Não vou entrar nos méritos técnicos da série – fotografia, trilha sonora, etc -, mas encerro dizendo que fiquei muito tocada pela história, me emocionei diversas vezes e com certeza não é um seriado ao qual a gente assiste e sai dele ileso. Impossível não sentir pelo menos um pouco de empatia por algum dos personagens, não se identificar com pelo menos uma das situações retratadas, não ter a sensação de já ter sido um pouco Hannah um dia.
É isso. Assistam. Reflitam. Repassem. Há muito mais que treze motivos para você ver essa série – e para discuti-la.
13 Reasons Why
13 Reasons Why é uma série americana produzida pela Netflix baseada no romance Thirteen Reasons Why escrito por Jay Asher. Foi adaptada por Brian Yorkey e Diana Son e Brian Yorkey atuaram como showrunners.
Primeiro episódio: 31 de março de 2017
Adaptação de: Os Treze Porquês
Emissora original: Netflix
Diretor(es): Tom McCarthy
Idioma original: Inglês
Texto originalmente publicado em: http://cronicasdecategoria.com/2017/04/06/por-que-assistir-13-reasons-why/