Eu sempre fui o tipo de pessoa que gosta de definições. Dicionários, enciclopédias, unidades de medida, tudo muito bem quantificado – e, se possível, esmiuçado.
Passei a vida buscando exatidão. Enxergando o mundo como se tudo pudesse ser dividido entre certo e errado, verdadeiro ou falso, real ou imaginário, bom ou ruim.
Tinha uma fixação por saber o que era o quê, quais eram as regras, padrões e conceitos. Queria – ou melhor, necessitava – de respostas e certezas, e estava crente de que elas existiam em algum lugar.
Mas, a beleza da vida consiste justamente no fato de que ela não está nem aí pro que a gente quer ou pensa.
E, nessa minha obsessão por perfeição, só fui agraciada com falhas.
Minhas convicções foram se despedaçando, uma a uma, até virar pó.
Diante das ruínas das minhas certezas, deparei-me com a oportunidade de vislumbrar a vida como ela é: imprecisa, imperfeita, volátil, aleatória, surpreendente.
Aceitei que a existência não é como um quebra-cabeças, onde cada peça tem seu lugar e se encaixa com perfeição à peça ao lado – e que, ao final, forma uma bela gravura.
Percebi que os contornos são, na maioria das vezes, difusos. Que as linhas divisórias raramente podem ser enxergadas com precisão. Que as cores podem se misturar – e até criar algo novo a partir da combinação. E dificilmente a obra estará concluída algum dia.
Acho que a grande sacada nisso tudo foi conceber que, da mescla, do desalinho, da ruptura podem sair cores ainda mais bonitas, texturas ainda mais prazerosas, imagens ainda mais estonteantes, cenas ainda mais inspiradoras.
E que essa leveza no pensar e essa fluidez no viver trazem consigo o que a gente tanto almeja: liberdade.