Escolher feijões é completamente nostálgico para mim. Lembro das incontáveis vezes em que minha falecida avó me colocava sentada ao lado dela na mesa e me fazia ajudá-la a separar os grãos ruins antes de cozinhar.
À época, eu, criança, via aquilo como uma tarefa corriqueira, entre tantas outras coisas que ela me ensinava diariamente. Só não imaginava que algum dia esse pequeno gesto fosse significar tanto. Não quer dizer que eu não teria aprendido a separar feijões com outra pessoa. Mas, com certeza, jamais separarei os grãos sem me lembrar dela. Muitas outras coisas, obviamente, me causarão o mesmo efeito.
Não sei explicar cientificamente por que fazemos determinadas associações aparentemente absurdas. Por que determinados lugares nos lembram certas pessoas, ou por que algumas situações aparentemente tão “normais” ficam tão impregnadas na nossa memória, enquanto outras são esquecidas num piscar de olhos.
Qualquer coisa pode ser um “gatilho” para um tsunami de recordações. Uma cor, um número, um objeto, uma roupa, e, inevitavelmente, uma música. E com uma força surpreendente, de repente trazem de volta uma série de imagens e emoções que estavam esquecidas em algum lugar longínquo da nossa mente.
Acredito que essas associações sirvam para que não nos esqueçamos de pessoas que, um dia, foram importantes para nós – para o bem ou para o mal. Tudo é aprendizado, afinal.
Penso que cada pessoa com a qual associamos algo involuntariamente, ainda que não faça mais parte do nosso cotidiano, com certeza teve uma participação relevante em algum momento da nossa vida.
E às vezes, as pessoas passam, as amizades acabam, os amores terminam, mas determinadas recordações são inevitáveis, sejam elas motivadas por uma música, um filme, surgidas em meio ao caos de um ponto de ônibus, ou, simplesmente, provocadas por uma banalidade como escolher feijões.