O altruísmo e a conveniência


Hoje li uma notícia, que não vem ao caso citar — não quero ninguém magoadinho — que me fez escrever esse texto, mesmo, tantas vezes, prometendo a mim mesma que não mais opinaria sobre questões polêmicas.

Mas, como a vontade de falar certas coisas é mais forte do que eu, cá estou, prestes a jogar lenha na fogueira, mesmo sabendo que serei apedrejada (nem que seja em pensamento).
Pois bem. Lá vai: vamos falar aqui de altruísmo. Dia desses, vi uma reportagem sobre o Gianecchini estar engajado na causa da luta contra o câncer. Até visitou um hospital para crianças que têm a doença, gravou vídeo, coisa e tal.
Gianecchini em campanha pelo GAAC
A imprensa repercutiu o assunto como se fosse um gesto lindo da parte dele. Não deixa de ser. Mas tem um pequeno porém: ele recentemente descobriu que está com câncer. Ou seja, ele só passou a se interessar pela causa quando se tornou conveniente para ele.
Antes disso, eu nunca havia visto qualquer atitude semelhante vinda da parte dele. E quero deixar bem claro que não tenho absolutamente nada contra ele, nem pessoalmente, nem profissionalmente, não se trata aqui de ser hater ou algo do tipo. Estou apenas pontuando como é que, de repente, com um diagnóstico, tudo mudou.
Tem outro exemplo, de uma webcelebridade (não citarei o nome), que recentemente sofreu um acidente e precisou de transfusão de sangue. Enquanto estava internada, ela lançou uma campanha de doação de sangue e, de repente, virou símbolo da mobilização pelo ato.
Bonito, doar sangue é muito bonito. Mas, novamente, não foi espontâneo. Ela só resolveu considerar a doação  importante quando ela mesma precisou. Será que, não fosse esse acidente, ela teria tido a mesma atitude? Vou além: será que ela alguma vez na vida doou sangue? Eu realmente não sei.
É aí que entra o paralelo que quero traçar entre o altruísmo e a conveniência.
Quando vejo casos assim, não consigo não me perguntar: ué, mas essa pessoa só descobriu agora que existem milhões de pessoas com câncer no Brasil precisando de ajuda? Ou: essa pessoa só descobriu agora que sei lá quantas mil bolsas de sangue por dia são necessárias para transfusões?
 
Enfim: o resumo da ópera é que eu não acredito nesse tipo de altruísmo. Porque eu só acredito nas coisas que fazemos de coração. E se você só se engaja em causas próprias, por assim dizer, me desculpe, mas não é de coração. Altruísmo de verdade é quando você faz um bem a alguém sem esperar nada em troca, sem ser pessoalmente beneficiado com isso. Senão, torna-se uma filantropia duvidosa.
Não estou diminuindo o gesto, nem o sofrimento dessas duas pessoas que mencionei. Só acho que não é suficiente, às vezes, fazer a coisa “certa”. É preciso fazer, também, pelos motivos certos. Ou você só vai fazer uma doação à APAE se tiver um filho deficiente? Ou só vai ajudar o Lar dos Velhinhos se, um dia, seu pai ou sua mãe estiver num asilo?
Não quero formar juízo de valor aqui, é pura, simplesmente e meramente a minha opinião. Mas é algo a se refletir.

Comente!

Um pensamento em “O altruísmo e a conveniência

  • Rose Carreiro

    Isso me fez lembrar aquele episódio do Chaves em que o Prof. Girafales fala que altruísta é um homem que ama os outros homens, dae o Sr. Madruga respondeu: é que aqui chamamos de outro nome hauhauhauahua

    Mas, brincadeira de lado, sua reflexão faz sentido. A gente só presta atenção em certas coisas quando elas passam a fazer parte da nossa vida, assim como o câncer, a deficiência, os acidentes de carro, os desabamentos…Porém, por motivo pessoal ou não, acho que todo ato de solidariedade é válido.

    Beijos.