Fátima Bernardes, Patrícia Poeta e o jornalismo “estrela”


A notícia de que Fátima Bernardes deixará a bancada do Jornal Nacional caiu como uma bomba na cabeça de milhões de brasileiros acostumados, há 14 anos, a ouvir seu “boa noite”.

O alarde foi tanto que, em alguns momentos, eu tive a impressão de que as manchetes noticiavam uma grande catástrofe. Agora, a Globo explicou: Fátima vai se dedicar a outro programa, um projeto pessoal, cujos detalhes ainda não foram revelados.

Em seu lugar, ficará a insossa Patrícia Poeta, que, agora, terá de rebolar para provar sua competência – porque o Fantástico, né, vamos combinar…

Admirações e desaprovações à parte, não vou entrar aqui no mérito das minhas preferências, e sim, na importância (a meu ver exacerbada) que deram ao fato.

Eu nunca entendi muito bem esse fenômeno, mas confesso que fico intrigada com o tratamento de “estrela” que a Globo confere aos jornalistas.

Jornalismo, nós bem sabemos, não tem glamour. Quem é ou já foi repórter sabe: correr atrás de pautas é sofrido, fazer reportagens na rua é, muitas vezes, insalubre, estamos sempre sujeitos a intempéries, o relógio está sempre contra nós, e por aí poderia seguir uma imensa lista de dificuldades enfrentadas diariamente por tantos e tantos jornalistas desse mundo. Talvez a exceção fique por conta dos âncoras, de fato, pois o estúdio é, sem dúvidas, bem mais confortável – embora não menos desafiador.

Porém, na Globo, tudo tem outro aspecto. Jornalistas, lá, são tratados como estrelas, sim. Nem todos, é verdade. Mas, alguns são verdadeiras celebridades. O casal Fátima e William, principalmente.

Prova do que digo são as incontáveis reportagens que saem sobre o casal e seus trigêmeos em sites de fofocas e revistas do estilo Caras. Querem mais uma prova? A nova vinheta de final de ano, interpretada por Roberto Carlos, onde aparecem alguns dos “prodígios” do jornalismo.

Não vou negar que eles são supertalentosos, embora eu esteja cansada dessa artificialidade global, mas não vejo isso acontecer em nenhuma outra emissora.

Eu sei que, em telejornais massivos, como é o JN, rola mesmo essa coisa da identificação com os apresentadores, tem gente que responde ao “boa noite” em casa, e coisa e tal. Mas, na minha humilde opinião, o que está acontecendo é uma supervalorização de um fato que deveria ser corriqueiro – afinal, as notícias independem de quem as apresenta. O importante, mesmo, é o conteúdo.

Eu entendo que Fátima e William sejam ícones do jornalismo no Brasil, mas acho isso bem questionável. Acho que são, inclusive, uma má influência para tantos jovens que entram na faculdade de jornalismo achando que a profissão é fácil e glamourosa, pois têm os dois como referência, quando, na verdade, eles são a exceção da exceção.

Eu poderia discorrer aqui sobre o quanto vejo isso criando uma legião de futuros jornalistas fúteis e só preocupados com a imagem, que não sabem escrever meia lauda, mas aí estaria fugindo demais do assunto.

Encerro por aqui tentando chegar a uma conclusão sobre: até onde vai o jornalista, e onde começa o artista? Isso é mesmo bom para o jornalismo?

Deixo a palavra com quem quiser comentar! Boa noite!


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