Não liga, não. Eu me viro. Carrego o peso das consequências sozinha.
Já estou acostumada a levá-las para lá e para cá.
Tô meio desajeitada, sim. Mas, não me estenda a mão e não mude seu caminho para tomar alguma providência por mim. Todas essas pendências são minhas — e só minhas.
Eu quis assim. Talvez, inconscientemente. Talvez, inconsequentemente. Mas, o fato é que eu escolhi.
E quando peguei essa bagagem para carregar eu sabia o quanto pesaria. Pode ser que, na hora, eu tenha achado até leve e não tenha medido bem o quão sacrificante seria suportar tudo isso por um período prolongado. Mas, agora é assim e ponto.
Aos poucos, vou me acostumando ao peso e fortalecendo a musculatura, para dar conta de levar tudo comigo. Apesar de que tenho pensado seriamente em abandonar uma ou outra coisa. Acho que, na verdade, nem preciso de tanto.
Mas, não se preocupe não. Eu mesma faço a reciclagem, boto fora o que não servir mais e continuo levando o resto. Esse conjunto de situações e sentimentos é minha carga agora. Não há como dissociá-lo de mim.
Tem um pouco de você aqui, sim. Mas, desculpe-me. Não posso te devolver. Você me entregou esses pedaços num momento em que eu precisava deles. Agora, eles já se misturaram aos meus e formaram um novo quebra-cabeças. Meio disforme. Meio melancólico. Mas, ainda assim, é meu.
Perdoe o egoísmo e o orgulho besta, mas eu preciso que seja assim. Talvez, para você, não faça tanto sentido. Eu sei que te neguei qualquer herança, mas espero que um dia você compreenda. Nessa loucura toda de querer ser autossuficiente, eu quis te poupar e ficar com todo esse fardo pra mim.
Não é altruísmo. Não é uma atitude muito inteligente também. Mas, no meu mundo só existe essa forma de agir. Na minha infinita ignorância, só conheço esse jeito de existir. Ainda que doa. Ainda que eu canse. Ainda que eu pague o excesso. Essa bagagem não é sua.