Eu disse muitas coisas. E repeti. Eu sempre falei demais. Mas, provavelmente, as coisas que eu mais queria (e deveria) expressar ficaram presas no silêncio de um olhar vazio e de um nó na garganta.
Porque nada realmente fica para trás. As palavras não ditas são impiedosas. O que a gente cala continua reverberando na mente e esmagando o coração. O que a gente censura continua nos assombrando. E nos consumindo. Palavras guardadas emboloram e nos fazem adoecer. E esse acúmulo de desabafos negligenciados cresce, se materializa, toma forma e vontade própria e nos engole.
E foi assim que, sempre falando demais, eu falei de menos. Me atrasei – e a “hora certa” nunca mais voltou. Olhei pro lado quando deveria olhar nos olhos. Disse “tudo bem”, quando na verdade estava sucumbindo ao caos. Forcei o riso para sufocar o choro e o soluço. Quis parecer forte quando, na verdade, não passava de um bicho acuado.
E tudo que eu nunca disse me transformou em alguém que eu não sou. Apossou-se de mim. Distorceu meus sentidos, meus instintos e meus reflexos. Tudo que eu calei agora me grita e dá de dedo na minha cara, forçando-me a encarar meu semblante derrotado no espelho.
As coisas que eu nunca disse agora me dizem o que mereço escutar.