Silêncio


Ouço música no último volume. Ouço os carros passando, impondo um ritmo frenético ao trânsito. Freiam, buzinam, cantam pneus. Cantam também os pássaros, em meio ao caos da cidade grande.

No vizinho, toca o telefone, as crianças riem, o cachorro late. O elevador, incansável, cumpre sua rotina, seu sobe-e-desce obediente.

Na cozinha, a chaleira apita: a água ferveu. Lá fora, o vento uiva: vai chover. Tudo se manifesta. Soam os sinos da igreja, toca o despertador, o mundo grita na hora do rush.

Mas, nada é mais ensurdecedor que o silêncio. O seu silêncio.

Você não liga, não escreve, não fala, não canta para mim. Eu berro aos quatro ventos e sussurro ao travesseiro a sua falta. E você permanece calado.

Eu estampo na minha cara essa dor que o coração reclama. E você nada diz.

Eu apago seu nome da agenda e depois picho as paredes. E você nem se pronuncia.

Eu corro, tropeço, caio e rastejo. E você nem estende a mão para me levantar.

Eu bebo sua cerveja favorita para chegar mais perto de você. E você nem me oferece um brinde.

Eu grito que te amo e te odeio, tudo ao mesmo tempo, sem saber direito o que digo. E você nem ouve.

Eu desisto, e insisto, e resisto, tudo em menos de meia hora. E você permanece incólume.

Eu digo que vou embora, que nunca mais eu volto, que agora é nunca mais. E você, indiferente.

E tudo é tão em vão perante o seu silêncio avassalador.

E se você me maltrata desse jeito é porque eu faço tudo isso e muito mais bem longe da sua vista, por puro medo de que você perceba o que eu quero tanto te mostrar.

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