A criança cresceu. E os monstros também.
O medo do escuro não é mais pelas sombras que se formam nas paredes, mas, sim, pelo emaranhado de pensamentos que se forma no silêncio da hora de dormir.
O receio de atravessar a rua não é mais por causa dos carros, que passam a toda velocidade. É de agora ser o adulto e não ter de quem segurar na mão.
A mania de falar sozinho não preocupa mais as professoras do prezinho. Mas, tornou-se um hábito recorrente quando não há ouvidos disponíveis.
O mau humor matinal não se resolve mais com o achocolatado levado na cama pela avó. Agora, ele é obrigado a se curar sozinho, em meio ao trânsito caótico e regado a um café morno de segunda categoria.
Os vilões e os heróis não são mais tão fáceis de identificar quanto eram nos quadrinhos. Eles não usam uniformes coloridos e nem têm superpoderes. Estão todos misturados na multidão e reconhecê-los é quase sempre uma tarefa árdua.
Os filmes de terror não passam mais na televisão em horários proibidos. Agora, eles se passam em frente aos olhos e em tempo real. Além disso, nem sempre há garantia de que o bem vencerá o mal e de que os finais serão felizes.
A criança cresceu. E, com ela, seus monstros cresceram também. Porém, nem sempre aparece alguém para acender a luz e dizer que vai ficar tudo bem.