Ao som de Dave Matthews Band – Grace is Gone |
Já devo estar na décima dose de uísque. Estou zonzo e o cinzeiro está cheio. Prometo ao garçom que é o último drinque. Mas a verdade é que não quero sair.
“Eu não te amo mais”. A frase continua ecoando na minha cabeça. O que foi que eu fiz? Onde foi que errei? Quando foi que aquele sorriso radiante deu lugar a essa frieza? Como pode ter sido tão dura?
Logo agora, que eu havia superado meu medo de relacionamentos. Que eu estava disposto a me entregar a ela. Que começava a cogitar a ideia do “para sempre” sem mais sentir calafrios…
Olho ao redor e todos já foram embora. Mas, não quero voltar para casa. Está tudo fora de ordem. Não apenas a casa está uma bagunça. Eu estou. De que me adianta me barbear, se ela não estará lá para acariciar meu rosto? Para quem vou vestir minha melhor camisa? Nada disso faz sentido.
“Eu não te amo mais”. Me pergunto se algum dia ela chegou a me amar. Mas, besteira a minha. É claro que me amava. Ela me cuidou como nunca alguém antes. Isso não era brincadeira. Mas, queria entender como é que o amor acaba assim, de repente. Será que foi de repente? Ou já estava acontecendo e eu não notei?
Tudo bem, eu nunca disse que a amava. Mas, demonstrava. Ou, ao menos, tentava. Nunca fui tão entregue. Nunca fui tão fiel. Em pouquíssimo tempo, ela se apossara do meu coração. Mas, talvez eu não a tenha amado tanto quanto ela esperava. Ou do jeito que ela precisava.
Já fiquei aqui por mais tempo do que pude perceber. De tão imerso em meus pensamentos e me afogando em dor, não percebi ninguém ao meu redor a noite toda. Nem sei dizer se o bar estava movimentado. Não ouvi sequer uma música que tocou hoje. E creio que ninguém me notou também. Afinal, quem vai prestar atenção num cara cabisbaixo se embriagando sozinho num canto do bar?
Ou talvez até tenham me visto, mas devo estar exalando sofrimento e acho que as pessoas entendem e não se atrevem a interromper esse momento de autoflagelação.
Minha cabeça pesa. Até o neon do bar se apagou. Creio que devo ir…
Para onde, não sei… Mas, acho que vou levar essa garrafa comigo, até digerir esse “Eu não te amo mais”…