Despertador toca.
_Ah, não… É hora de ir trabalhar… Queria tanto dormir mais um pouquinho…

Levanta, arrastando-se. Toma um banho ligeiro. O tempo passa rápido demais pela manhã. Lembra-se que, no primeiro horário, tem uma reunião importante.

Procura uma camisa mais formal no armário, mas se lembra que não teve tempo de passar a roupa. Procura na pilha de roupas lavadas. Encontra uma blusa ajeitada, mas vai ter de alisar em cima da cama mesmo. Dá uma desamassada só para enganar, larga o ferro de passar ao lado da cama e se veste — um olho no espelho; outro no relógio.

Não há tempo para arrumar a cama, vai sair de casa e deixá-la bagunçada. “Ainda bem que minha mãe não está vendo”, pensa consigo mesma e ri, enquanto procura um calçado que combine com a roupa.

Está tão atrapalhada, devido ao sono, que derruba uma das lentes de contato na pia do banheiro.

_Desastrada! — ralha consigo mesma.

Consegue, finalmente, colocar as lentes, olha-se melhor no espelho e fica arrasada. “Que cara de cansaço… E essas olheiras?!!”, pensa, tudo ao mesmo tempo.

A solução é tentar fazer uma maquiagem vapt-vupt que disfarce as imperfeições, mas ao mesmo tempo seja leve e dê um ar de profissionalismo.

Borra o rímel, é óbvio. Conserta aqui, ajeita ali. E o cabelo não colabora. O jeito é fazer aquele coque que disfarça qualquer coisa.

Está pronta, mas não há tempo para tomar café. Desce correndo, pega o carro e vai. No trânsito, ora se estressa com as barbeiragens alheias, ora relaxa ouvindo uma música e cantando.
Em meio ao mar de carros, caminhões e motos enlouquecidas, refugia-se em seus devaneios e até se esquece que é segunda-feira e ela ainda tem a semana inteira pela frente.
Faz mais uma daquelas sessões de autorreflexão que somente a solidão em pleno caos é capaz de proporcionar. Está chegando aos 30 e sua vida não está nada parecida com o que imaginara alguns anos atrás. Mas ela sorri. Aprendeu a lidar com as desventuras com mais leveza. Os choros são cada vez menos frequentes. Às vezes, tem a plena sensação de que enlouqueceu. E adora.
Não sabe muito bem que rumo seguir na vida, mas decidiu não se prender a planos rígidos demais, pois qualquer percalço no caminho só redunda em frustração. Decidiu, ao contrário, ser grata às surpresas que a vida lhe traz e aceitar que nada será 100% o tempo todo.
Opa, gastou tanto tempo pensando que já chegou ao trabalho. Encontrar uma vaga para estacionar é sempre um desafio pela manhã.
Hora de colocar aquele sorriso cordial no rosto e encarar o dia. Às vezes, tem a sensação de que carrega o mundo sobre seus ombros, mas encontra forças sabe-se lá onde e vai desbravando a vida, com olhos de fera e um coração de menina.
Acaba o expediente e ela decide que hoje vai direto para casa, descansar e jura que vai dormir cedo. E mudar o mundo vai ficar para amanhã.
Mas, outra noite de insônia vem e, no dia seguinte, acorda atrasada outra vez…