Home, sweet home


Ao som de Simon & Garfunkel – Homeward Bound

Chego em casa e venho direto à sacada. Gosto de observar como a paisagem se modifica diariamente. Não só pela obra que dá forma às casas dos meus futuros vizinhos. Mas pela vegetação que se transforma com o passar das estações e, também, pelo céu, que a cada dia assume novas nuances.

Daqui do alto, sou mera espectadora de cenas que parecem muito distantes de mim. Como se os carros, as pessoas e os bichos lá embaixo se movessem num outro ritmo. Talvez seja porque, em casa, eu me sinta num universo paralelo, onde o tempo transcorre numa velocidade diferente.

Aqui, num apê de nove por seis, é onde, pela primeira vez, vejo minha vida tomando forma. E não apenas a forma dos quadros que escolhi cuidadosamente para decorar as paredes, ou a disposição dos móveis que calculei milimetricamente. Mas a forma de alguém que constituiu um lar.

Pode até não ser, aos olhos da sociedade, um lar “padrão”, visto que normalmente se atribui a ideia de lar a uma casa habitada por uma família. Porém, venho a discordar desta concepção, desde que passei a entender que lar é onde a gente se sente em paz. E eu, morando apenas em minha própria companhia, considero-me grata e satisfeita por não sentir solidão – e, sim, plenitude.

O meu conforto consiste não em móveis luxuosos ou objetos sofisticados, mas, num lugar onde me reconheço em cada detalhe, onde sinto-me segura e à vontade, onde me reciclo e recarrego as energias.

Da porta para dentro, não passa nenhum tipo de sofrimento ou rancor. Assim como os sapatos, ao entrar também tiro todo e qualquer peso que o mundo lá fora possa ter jogado sobre meus ombros. Aqui dentro, não há lugar para nada que me sufoque.

Aqui, só entram coisas alegres e que combinem com a leveza que sinto. E não me refiro às coisas materiais. Estas são acessórios. Refiro-me ao meu novo eu, que se constrói e se remodela diariamente, seja no silêncio ou em meio a livros, DVDs e à indecisão de qual planta pendurar na floreira.

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