Nunca tivemos contrato, aliança ou sequer rótulo para o relacionamento. Mas, tinha algo que sinalizava que você queria estar ali: o disco dos Rolling Stones. Lembro muito bem do dia em que você o trouxe pra minha casa, junto com meia dúzia de roupas e uma escova de dentes. Você sempre fez questão de dizer que era tudo passageiro, mas eu entendi, desde o primeiro momento, que aquele vinil era a garantia de que você iria voltar.
E assim você voltou mesmo. Várias vezes. E quando ia embora, às vezes levava um casaco ou outro. Mas, o disco dos Stones continuava ali. “Ouça para se lembrar de mim”, você dizia, debochado. E confesso que ouvi mesmo, incontáveis vezes. Era como se Angie realmente fosse minha música, pois, a cada vez que eu ouvia, lembrava de você cantando e tocando como se a tivesse composto para mim. Eu adorava como você caprichava em cada acorde e se achava o próprio Jagger.
Eu nunca precisei te perguntar se estava tudo bem com a gente, porque o bolachão – que não saía mais da minha vitrola – já me respondia isso.
Até o dia em que você acordou mais cedo que eu, como fazia sempre, e saiu sem tomar café – o que também era comum pois você sempre preferiu o pingado com pão na chapa do boteco da esquina. Mas, naquela manhã fria, uma coisa diferente aconteceu. Com você, foi-se embora também o disco dos Stones. E não foi preciso dizer nada. Esse gesto me contou que você não voltaria.