Como se fosse a última vez


Eu me lembro da primeira vez que te vi. E me lembro de várias coisas que fizemos juntos pela primeira vez.

Mas, o que eu me lembro mais é de como a gente vivia cada uma dessas coisas com intensidade; de como a gente sabia, de alguma forma, que todos os nossos momentos seriam memoráveis.

Lembro de como você me abraçava apertado e ria de mim quando eu dizia que precisava ir, porque estava atrasada – e você fingia que ia me largar, e me puxava de volta, com mais vontade ainda, avisando que não me deixaria escapar.

Eu me lembro das tardes abafadas que passávamos bebendo cerveja e rindo de qualquer bobagem, já que tudo ficava divertido quando estávamos juntos.

Lembro, também, das noites de inverno, em que nos espremíamos no sofá vendo TV e disputávamos cada pedacinho do cobertor.

Eu lembro das brincadeiras bobas que a gente fazia, que ninguém mais no mundo entenderia, e por isso mesmo elas eram tão especiais para nós.

Lembro de como a gente conseguia se comunicar só com o olhar, quando as palavras não eram necessárias.

E me recordo especialmente de como você me olhava e me beijava, sempre, como se fosse a última vez. A gente nunca se despediu de qualquer jeito. Era sempre como se aquele “tchau” não fosse um “até logo” e, sim, um “adeus”. Abraços prolongados, as mãos que não queriam se soltar, os corações que ignoravam o relógio, os beijos que não queriam terminar. Nós fazíamos de tudo para tentar adiar o máximo possível o momento de nos separarmos.

Mas, chegou o dia em que não pudemos fazer nada para evitar o último e definitivo adeus. Dessa vez, nós sabíamos que não haveria re-encontro e, ao contrário de todas as outras vezes, não teve nada de poético, pois foi, verdadeiramente, a última vez.

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