Sempre que alguém sai da vida da gente de uma maneira muito brusca – pelo motivo que for -, é inevitável a sensação de que está faltando um pedaço nosso. Porque, de uma forma ou de outra, as pessoas mais próximas de nós se tornam praticamente um pedaço de nós. Não físico, obviamente, mas emocional.
Para usar uma analogia bem cretina, é como se tivéssemos tido um membro do corpo amputado. Quem nunca se sentiu manco, torto, desajeitado, bobo, logo após uma briga feia com alguém, um rompimento de relacionamento, ou mesmo a morte de um ente querido?
E, assim como as pessoas que realmente têm membros do corpo amputados e continuam a senti-los nos momentos seguintes, a gente também demora a assimilar que aquela pessoa que era nossa sustentação, nosso braço direito, ou nossa perna de apoio, não está mais ali. E no começo é tudo esquisito. A gente fica tendo aqueles reflexos do “membro fantasma”, porque é inconsciente. E aí a gente tropeça, derruba as coisas, se atrapalha inteiro. Sentimo-nos como um quebra-cabeças faltando uma peça: irremediavalmente incompletos.
Mas, aos poucos, a gente vai se acostumando à nova condição. E, assim como as pessoas que literalmente têm membros do corpo amputados mais cedo ou mais tarde reaprendem a fazer suas tarefas cotidianas, a gente também se adapta à nossa nova realidade. Não que seja fácil, é claro. Nunca é.
Literalmente ou metaforicamente, acho que todo mundo já se sentiu incompleto, amputado, um dia. Mas, assim como pessoas que precisam se readequar fisicamente, a gente aprende a se readequar emocionalmente, e talvez até (re)descobre nossa força e nossa autoconfiança justamente nos momentos mais difíceis.