Nessa triste campanha eleitoral de 2018, temos ouvido algumas coisas à exaustão. Uma delas são candidatos que defendem os “valores familiares”, ou, simplesmente, “a família”.
Isso tem me feito refletir muito, então eu resolvi me manifestar.
Vamos lá. Eu também defendo a família. Então, como eu acho que a família é uma instituição muito importante e uma parte muito significativa na formação de uma pessoa, resolvi falar um pouco sobre quais são os meus valores familiares.
Eu aprendi, com a minha família, alguns valores bem simples, mas que de certa forma definem a forma como eu me comporto e as decisões que eu tomo.
Por exemplo, eu aprendi, com a minha família, que eu deveria estudar, estudar muito, estudar com afinco, que estudar me emanciparia na vida. E aprendi o valor e a importância do trabalho. Então, um dos meus valores é esse: trabalhar, não ter medo do trabalho, tentar sempre fazer o melhor possível.
Também aprendi, como valores familiares, que a honestidade não tem preço. E que nada na vida é fácil, mas a gente tem que ser forte e encarar os problemas de frente.
Outro valor familiar que eu aprendi foi a lealdade. Você não precisa ter muitas pessoas ao seu redor, mas precisa que as que estejam com você sejam leais, e você seja leal a elas.
Dentre tantas coisas que eu aprendi com a minha família, tem uma frase do meu pai que me marcou muito: “Mayara, nunca se esqueça de onde você veio”. Vejam bem, meus pais têm origem pobre. Lutaram muito na vida. Eu hoje tenho uma condição incomparável à que eles tinham na minha idade. Tenho uma vida confortável e uma renda acima da média da grande maioria da população. Poderia eu, por isso, virar as costas para os menos afortunados? Jamais. Como meu pai me ensinou, é de onde eu vim. Eu jamais posso me esquecer disso.
Outra coisa que eu aprendi, nessas incontáveis conversas ao redor da mesa, foi que ninguém deve ser discriminado. Preto, branco, pardo, gordo, magro, rico, pobre, gay, hétero, todo mundo é igual, todo mundo é gente, todo mundo merece respeito e dignidade. O cara que está cortando a grama da minha casa não tem menos valor que o meu patrão em seu escritório com ar condicionado.
Então, quando eu falo de valores familiares, observem, são coisas que extrapolam as quatro paredes da minha casa. Porque – e vejam a contradição – os que se autointitulam defensores da família, na verdade, são defensores de um MODELO de família, tamanho único, no qual todo mundo deve se encaixar. E querem definir QUEM pode ser família, e de que jeito.
Só pra gente não se esquecer da história, até algum tempo atrás era proibido que negros se casassem com brancos. Hoje, ainda querem proibir que um homem se case com outro homem, e uma mulher com outra mulher. É isso que os ditos defensores da família pregam, na verdade: que eles têm que ter o poder de decidir quem pode se amar e quem pode constituir uma família.
Já eu acredito que o amor deve ser livre, e que família transcende esse modelo tradicional de pai+mãe = filhos. Eu acredito e defendo que família são pessoas que se amam, se cuidam, se ajudam e estão juntas até o fim. Foram esses os valores familiares que eu aprendi. E você? Qual é o valor de família que te representa?