Re-encontros


Eu sei que você sempre vai voltar.
Na tarde de uma segunda qualquer, a gente vai se esbarrar na padaria de novo. E aquele oi meio sem graça, que nos deixa com as mãos trêmulas e o coração na mão, não vai ser suficiente.

E eu sei que, em seguida, você não vai se segurar e vai ter que me ligar. E nós vamos conversar durante horas de novo. Como se todo esse tempo de distanciamento nunca tivesse existido.

Eu sei que, por mais que eu tente não ter notícias suas, vai ser inevitável ficar suspirando diante daquela fotografia que eu ainda guardo escondida na gaveta. E no fim vou te escrever de novo, sim.

Eu sei que eu posso mudar o cabelo mais umas quarenta vezes, você pode trocar de carro e, mesmo assim, reconheceremos um ao outro a quilômetros de distância. Mesmo que tudo esteja diferente, o brilho dos teus olhos sempre vai se encontrar no verde-acinzentado dos meus.

Eu sei que você vai se interessar por outras mulheres, se entregar a outros abraços e se perder em meio a outros lençóis. Mas, toda vez que a nossa música tocar, sentiremos como sempre o arrepio que sobe pela espinha e conseguiremos sentir o toque um do outro.

Eu sei que as memórias vão se fragmentando e os detalhes vão se perdendo com o tempo, mas não há lavagem cerebral que consiga nos livrar do cheiro um do outro, que resiste nítido, intocado e impregnado na lembrança.

Eu sei que a gente já chegou à conclusão de que fomos um erro na vida um do outro, mas a vontade sempre vai ser a de se entregar ao pecado logo de uma vez e acreditar que uma ligação tão forte assim tenha mesmo razão de ser.

Eu sei que sermos obrigados a resistir a tudo isso pode até ser um castigo por termos sido felizes demais numa vida passada ou, quem sabe, seja o prenúncio de que precisamos acertar o timing na próxima vez.

E eu sei que não saber o motivo de te sentir tão inteiramente feito pra mim é justamente o que me dá a certeza de que você sempre vai voltar, porque você jamais vai embora de mim.

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