“Reality junkie”


Ao som de Rush – Ghost of a chance

Você pode me chamar de cética, ou até de pessimista, se assim entender. Por outro lado, prefiro ver essa minha incredulidade como um artifício para controlar as expectativas e economizar frustrações. Talvez isso soe como uma medida de proteção – e até posso concordar que seja. Porém, por incrível que pareça, constatei que sonhar menos faz com que realizemos mais.

O usual é que tracemos objetivos ou imaginemos as coisas que queremos sempre a longo prazo. Ou seja: temos metas (que deveriam ser) duradouras. E agir assim é como saltar sem se certificar se o paraquedas vai abrir. Depositar todas as nossas expectativas em algo grandioso é extremamente arriscado, pois o menor acidente de percurso pode botar tudo a perder num piscar de olhos. E aí, voltamos à estaca zero.

Coincidentemente ou não, depois que passei a traçar objetivos mais modestos e de curto prazo – já prevendo possíveis percalços -, realizei muito mais coisas, obtive muito mais progresso. E é bom deixar bem claro: isso não se aplica apenas às questões materiais. Pequenas evoluções emocionais também dão trabalho e requerem persistência. Mas, ao menos, as consequências são palpáveis e duradouras.

Mas, o que isso tem a ver com incredulidade? Bem, tem a ver com o fato de que, muitas vezes, idealizamos demais uma condição para, só então, darmos um passo rumo à realização dos nossos sonhos. Porém, o que frequentemente não levamos em conta é que essa condição pode nunca vir a existir. E quanto tempo passamos esperando?

Como eu já sou da opinião de que perfeição não existe e sorte, muito menos, creio que depende muito mais de nós tomar as providências necessárias e criar as condições para viabilizar estes objetivos, do que esperar que a vida se resolva por si só.

Lembro que, no seriado House, o Wilson certa vez classificou o amigo como um “reality junkie“, o que seria algo como um viciado em realidade. Bem, talvez eu também esteja sofrendo dessa mesma adicção. Por isso, atualmente espero cada vez menos do mundo, deixo muito menos coisas para a sorte ou para o acaso, não crio mais (muitas) expectativas com as pessoas, e espero muito mais de mim. Ser exageradamente realista não é exatamente a forma mais bonita de encarar a vida, eu sei. Mas, ao menos, a realidade é honesta. Já as expectativas, nem sempre.

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