Ridículos S.A.


Somos todos ridículos. Sim, todos nós. Eu, você e aquele cara ali sentado com cara de quem não está nem aí. No fundo, ele também se sente ridículo porque ficou plantado esperando alguém que não veio e agora toma um café frio enquanto decide para onde ir.

Você também sabe que é ridículo toda vez que veste uma peça de roupa cara para demonstrar uma condição que não tem a alguém que não está interessado – e volta para casa frustrado novamente.
Eu sei que sou indiscutivelmente ridículo tentando disfarçar a solidão lendo um jornal de ontem e respondendo as palavras cruzadas todas pela metade, fazendo de conta que é só para esperar a chuva passar.

Somos todos ridículos. Em vários aspectos. Ninguém escapa das pequenezas e vergonhas da vida.
A apresentadora feliz do telejornal do meio-dia também se sente ridícula ao carregar o corretivo na maquiagem para esconder as olheiras de uma noite mal dormida, em consequência de um coração partido. Enquanto lê mecanicamente no teleprompter frases escritas por outra pessoa, conclui que nenhuma daquelas notícias lhe interessa, pois o seu mundo já acabou de qualquer maneira.

A gostosona da academia, no fundo, sabe que é completamente ridícula por se cobrar doentiamente uma forma perfeita, pois não reconhece em si mesma outras qualidades que não as pernas torneadas e o abdome enxuto. O pedreiro, que levanta junto com o sol, volta para casa diariamente sentindo-se o mais ridículo dos seres humanos, por construir mansões maravilhosas nas quais nunca poderá morar.

O seu melhor amigo também se sente ridículo te pedindo dinheiro emprestado para pagar as contas enquanto não consegue um emprego. E quando bebe demais e acaba derramando novamente as mesmas lamentações sobre você. E o técnico do seu time também chora sozinho no vestiário depois de perder o campeonato, sentindo-se miseravelmente ridículo.

Aquele cara que é o melhor da turma do basquete, aparentemente tão bem resolvido, só tem essa vida social insanamente agitada porque busca preencher cada minuto do tempo livre que tem, com qualquer atividade que seja, simplesmente porque não consegue lidar com o próprio vazio existencial – e, para ele, ficar só é desesperador.

Somos todos ridículos buscando a aprovação alheia, fazendo coisas das quais não gostamos, com as quais não concordamos, simplesmente por acharmos que a opinião dos outros vale mais que a nossa própria. Somos primitivamente ridículos tentando fazer parte de um grupo, tentando impressionar, nos vangloriando por feitos infantis que nada representam. Somos ridículos nos sentindo desnudos perante os olhares da multidão.

Somos todos ridículos quando fraquejamos e desistimos dos nossos sonhos, nos apavorando com qualquer obstáculo no caminho. Somos profundamente ridículos quando tentamos controlar nossos sentimentos, disparando frases de efeito patéticas e gritantemente artificiais.

Eu sou e você também é. Sim, somos ridículos.
Somos desprezivelmente ridículos quando imploramos por atenção – muitas vezes nos contentando com migalhas.
Somos ridículos quando queremos ter razão a qualquer custo – mesmo quando sabemos, no nosso íntimo, estar errados -, ou quando argumentamos tão calorosamente a ponto de nos contradizer.

De perto, somos todos ridículos.
Somos ridículos porque queremos ser aceitos, admirados – ainda que passando uma imagem milimetricamente construída e lapidada.
Somos todos ridículos em nossas inseguranças. Somos ridículos porque a honestidade nos expõe e, no fundo, somos todos crianças assustadas com a ideia de ter feito algo (ou tudo) errado e sermos punidos por isso.
Somos ridículos porque queremos agradar. Somos ridículos pura e simplesmente porque queremos ser amados. Somos ridículos assim porque somos humanos.

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