O pior tipo de saudade não é das coisas que não voltam mais, como aquele ano do Ensino Médio em que você curtiu a vida adoidado, com amigos tão loucos quanto você e com aquele frescor e despreocupação que só a adolescência proporciona. Esse tipo de saudade é bom. É o tipo de saudade que não machuca. Até faz sorrir.
E até mesmo a saudade de pessoas com quem a gente não tem mais tanto contato é suportável, porque a gente sabe que elas estão ali. Essa ausência é até contornável. Um café esporadicamente já ameniza um pouco essa falta. Colocamos as novidades em dia e, revigorados, podemos seguir adiante.
Além do mais, tem a tecnologia. Essa nos permite dar um alô para quem é importante, enviar fotos, diminuir as distâncias. É verdade, não mata a saudade, mas conforta um pouco. Serve de alento.
Tem também aquela saudade romântica das coisas que a gente nunca viveu. Mas essa nem chega a doer. Fica mais no campo da imaginação e das aspirações. É bonita, até.
Pra quase todo tipo de saudade tem jeito…
… quase.
Porque o pior tipo de saudade, mesmo, é aquele que não nos é permitido sentir. É aquela saudade que não podemos expressar, muito menos explicar.
O pior tipo é aquela saudade proibida, que quanto mais a gente tenta abafar, maior e mais devastadora fica.
É aquela saudade melancólica, que a gente tenta sufocar abraçado no travesseiro, que a gente tenta se distrair pra esquecer, tenta fingir que não tá lá. Que a gente tenta contornar, satisfazendo outras necessidades.
Mas ela persiste. Doída. Massacrante. E, de repente, nada no mundo parece tão urgente quanto ela.
E nada se pode fazer quando essa saudade resolve tomar conta do nosso dia. Não se pode confessá-la, não se pode matá-la, tampouco ignorá-la.
Só nos resta aceitá-la, resignados em nossa própria impotência, reféns de sua perversidade e na esperança de que ela resolva, logo, esconder-se novamente.