Elevador


elevadorEsbarravam-se todos os dias no elevador. Ela embarcava no décimo. Ele, no sétimo.

Ela nunca fora de ter bom humor pela manhã, mas ele sempre dava bom dia com um sorriso tão lindo quanto desconcertante.

As conversas, quando ocorriam, limitavam-se ao tempo, como é de praxe.

Mas, quando, por um acaso, eles não se encontravam, ela achava estranho. Parecia que faltava algo no seu dia.

Ela não sabia o nome dele. Nem o número do apartamento. Só sabia que morava no sétimo. Não havia uniforme – portanto, impossível descobrir onde trabalhava.

E, mesmo que soubesse, de nada adiantaria, pois não seria capaz de uma investida.

Passou a arrumar-se mais para sair de casa pela manhã. Tudo por aqueles poucos segundos até o térreo. Tudo para encontrar o dono daquele belo sorriso.

Mas, naquela quarta-feira, ela não queria encontrá-lo. Estava com uma cara péssima. Os olhos inchados denunciavam uma noite sem dormir depois de um telefonema que ela gostaria de não ter recebido.

Saiu de casa atrasada, e naquele dia queria mesmo evitar o encontro.

Mas o elevador parou no sétimo andar.

Ele também havia se atrasado naquela manhã.

Ela ficou tão sem jeito que mal respondeu o bom dia. Apenas murmurou algo e abaixou a cabeça, querendo que ele não a notasse.

Mas ele a notou.

Gentil, convidou-a para um café na loja de conveniência da esquina. Era o local com maior probabilidade de ter um café próximo de decente naquela região.

Ela titubeou. Mas foi, sem saber bem o que esperar. Na verdade, querendo apenas sumir, mas lá no fundo com uma pontinha de esperança por finalmente estar saindo com ele. Não nas condições ideais, mas ainda assim era uma fagulha de esperança naquele dia tão amargo.

Tiraram dois espressos na máquina e sentaram-se num canto. Ele quis saber o que ela tinha. Ela não quis comentar.

Ele respeitou e mudou de assunto. Pediu desculpas por estar sendo tão invasivo. Contou umas piadas bobas. E finalmente confessou.

Ele já havia reparado nela há muito tempo. E não sabia mais como começar o dia sem aquele sorriso tímido dela e aquele papo cliché de elevador.

Comente!