Perdi as contas dos momentos em que me peguei indagando o que seria de mim sem você, caso nos afastássemos um dia.
Parecia uma ideia absurda e abstrata, e eu simplesmente não podia concebê-la. Para mim, éramos indissociáveis. Não sabia onde terminava você e começava eu, e vice-versa.
E lembro-me nitidamente da sensação de dor quando você se foi. Era como se – literalmente – tivessem arrancado um pedaço de mim.
Então, aquele pesadelo que antes sequer parecia plausível, tornou-se real: eu tinha de existir sem você. Existir, porque viver parecia impossível.
Como eu poderia fazer isso, depois de tanto tempo conjugando todos os verbos na primeira pessoa do plural? Eu não conhecia mais o singular.
Não pense que foi fácil me dissociar de todas as tuas influências. Das tuas músicas preferidas. Dos teus gostos por filmes. Das tuas gírias, que já eram tão minhas. Do teu jeito de adoçar o café. Da tua mania de fazer piadas com placas de carros. De tantas outras coisas, afinal.
Mas, fazendo um esforço sobreumano, aprendi a ser ímpar.
Desenvolvi, aos trancos e barrancos, a habilidade do autoconhecimento. E aos poucos, eu fui me (re)descobrindo. Fui percebendo quem eu era – e admitindo que parte de mim era apenas uma sombra tua.
E cada pedaço teu que eu extraía dava lugar a novas nuances de mim.
Assim, devagarinho, eu me desconstruí. E me refiz.
Criei um novo eu. Consegui resgatar o que sobrava da minha individualidade, daqueles tempos longínquos antes de você, e remodelei, readaptei, reativei minhas particularidades engavetadas.
Isso só foi possível porque me libertei das amarras das tuas opiniões e caprichos. Parei de me olhar através dos teus olhos. E comecei a me mostrar de verdade. Em primeiro lugar, para mim mesma.
Sabe, no fim das contas, o resultado ficou muito bom. Melhor que o esperado. Eu até me surpreendi, confesso.
Não que não existam resquícios teus em mim. Isso é inevitável, eu sei. Mas, acho que estes detalhes são quase insignificantes perto do todo.
E, olha, nunca me senti tão bem. Nunca me senti tão eu. E a verdade é que o meu eu é muito melhor sem você.
É uma das melhores maneiras de se (re) descobrir é ficar consigo mesmo. Tenho amigos (amigas principalmente) que não conseguem ficar sozinhas, pulam de um relacionamento para outro sem terem um tempo sequer para “se autoenamorarem”. Para viverem, não sozinhas, mas em solitude. Tem medo da solidão, mas essa é diferente da solitude.
É preciso se descobrir e nada como o silêncio de se ouvir a própria voz para conseguir esse descobrimento.
É verdade. Eu diria que esse período não é apenas importante, é fundamental 🙂