Quando me desapaixonei por você


Eu me lembro exatamente do dia em que me apaixonei por você.
Você usava uma camisa preta, com as mangas dobradas até a metade.
Nós fomos àquele barzinho no centro, bebemos cerveja e contamos várias coisas pessoais um pro outro.
Em algum momento, nesse dia, eu me apaixonei por você.
Eu consigo me lembrar exatamente da sensação. Aquele “clique” que me deu e eu pensei: “é ele!”. O calafrio que subiu dos pés à cabeça. Eu senti meu coração acelerando e meus olhos brilhando.
E essa sensação perdurou por anos. Eu te olhava e pensava: “é ele!”. Eu sentia tudo isso de novo, todos os dias.
Eu não sei se foi nesse mesmo dia que você se apaixonou por mim. Mas, sei que você também me olhou e pensou “é ela!”. E sei que também durou.

Mas, não sei dizer, sinceramente, quando foi que me desapaixonei por você. E também não consegui perceber o momento em que você se desapaixonou por mim.

Eu não sei como, quando nem por quê. Mas nós desbotamos. Destoamos um do outro. Perdemos o compasso. Saímos do ritmo.
Como a música que acaba antes da festa, expulsando os que ainda se encontram no recinto, nossa melodia findou, e só sobraram nossos olhares desencontrados e desajeitados, sem saber quem deveria sair primeiro.
Covardes que fomos, esperamos as luzes se apagarem, as portas fecharem, e relutamos, sentados na calçada, até que os raios de sol da manhã iluminassem nossos rostos abatidos.

E, sem mais desculpas, fomos obrigados a ir embora. Cada um pra um lado. E ambos sem rumo.
Só que, dessa vez, não fomos embora de mãos dadas. Fomos de bolsos e corações vazios. E com olhares opacos.
E dessa vez, nem mesmo aquele barzinho existia mais.

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