Entre quatro paredes, nós somos tudo, menos amigos.
Somos suor, respiração ofegante, lençóis bagunçados, roupas espalhadas pelo chão.
Somos noites intermináveis e cervejas que se esvaziam para saciar nossa sede.
Cá entre nós, somos corpos que se encaixam e se procuram. E se encontram.
No nosso íntimo, eu não sou teu vizinho e você não é minha professora de francês. As poucas coisas que falamos são em bom português e em sentenças curtas, com muitas exclamações.
Aqui, entre quatro paredes, somos o que quisermos.
Mas, da porta pra fora, você me diz que somos apenas bons amigos.
Quando você calça o sapato e vai embora, veste também tua capa de indiferença.
A gente se encontra no supermercado e você me cumprimenta com cordialidade.
A gente almoça juntos e você me trata com distância. Eu tento pegar na tua mão e você se afasta com frieza.
Somos apenas amigos, você repete.
Mas, sabe, eu não quero ser teu amigo.
E também não quero ser só teu amante.
Eu não quero ir para o bar com você em meio à turma e ser apenas mais um, como se nada tivesse acontecido. Como se nada acontecesse.
Não quero sentar em qualquer lugar da mesa que não seja ao teu lado.
Não quero que você me apresente às pessoas meramente pelo meu primeiro nome.
Fora daquelas quatro paredes, eu te quero com a mesma intensidade e a mesma insaciabilidade.
E o meu querer vai muito além do teu corpo. Ultrapassa de longe o mero desejo.
Eu quero não só as madrugadas de sábado, mas também os almoços de domingo.
Quero mais que as eventualidades e as superficialidades.
Quero cinema e shows de rock. Quero teus olhos nos meus olhos não só repletos de tesão, mas também de amor e admiração.
Uau!