Memórias


Excluo tuas fotografias uma a uma, como se a cada pressionada na tecla Delete te apagasse não apenas do meu HD, mas também das minhas memórias.

Como se, ficando sem ver aquele monte de pixels no formato do teu rosto, eu conseguisse esquecer do teu sorriso e do azul dos teus olhos.

Também tomo o cuidado de eliminar as fotografias impressas. Algumas, eu picoto, como se você fosse sentir a navalha da tesoura – e como se fosse realmente doer em você como dói em mim.

Presto especial atenção aos negativos, dos quais me desfaço sem piedade.

memórias

Substituo aquela nossa foto no porta-retrato por uma da minha infância, pra tentar me lembrar da época em que você ainda nem existia na minha vida.

Jogo fora tua coleção de revistas e mudo todos os móveis de lugar, na tentativa de rearranjar o cenário de forma que tenha menos a tua cara e mais a minha.

Faço todo esse ritual sem pressa, levando o tempo necessário para desembaralhar todos os sentimentos que ainda conflitam aqui – raiva, saudade, remorso, tristeza, solidão.

E, apagando todos os vestígios da tua passagem pela minha vida, eu sigo, na ilusão de conseguir te apagar, também, de mim. E constato que apagar as memórias palpáveis é relativamente fácil. Difícil é se livrar daquelas que habitam a cabeça e o coração.

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