O show tem que continuar


Há dias em que a gente pensa em desistir. Nada mais tem graça. Respirar só continua acontecendo porque é automático. Os dias todos parecem cinzas, e as piores dores são as que vêm de dentro.

Seguimos com a rotina sem saber por quê. Sentimo-nos culpados em não fazer mais nada com paixão. As memórias dos dias felizes começam a se desvanecer.

Acordamos pensando na hora de voltar a dormir, porque parece a única fuga possível, o único alívio disponível.

Não, muitas vezes a vida não é fácil. E a existência torna-se um peso, um sacrifício do qual não podemos escapar.

Buscamos por distrações, ou por soluções instantâneas para amortecer um pouco essa angústia sem fim. Mas aí nos damos conta de que o dilema é exatamente este: já estamos amortecidos, incólumes. Parecemos estar vivendo no piloto automático.

As horas passam devagar, a ansiedade cresce, pensamos e pensamos e quebramos a cabeça buscando uma solução. Mas não sabemos sequer qual é o problema.

Nessas horas, não há distração ou entorpecimento que faça esse vazio ir embora. A sensação continua sendo a de estar no fundo de um poço, sem forças para subir, e ainda lutando contra o solo de areia movediça.

Nesses dias, nos sentimos frágeis como uma bolha de sabão, que ao menor sopro pode estourar. Mas precisamos encontrar forças para não permitir que isso aconteça.

Muita gente passa a vida desse jeito e ninguém ao redor sequer nota. Temos que vestir nossa cara de normalidade e continuar. Apenas continuar cumprindo nossos compromissos, estando disponíveis para os nossos amigos e familiares, nos dedicando aos projetos que exigem nossa atenção.

E a gente vai levando, do jeito que dá, ainda que isso exija um esforço descomunal, ainda que sair da cama pela manhã pareça pesar uma tonelada.

A gente põe uma roupa, passa um batom, conta uma piada e segue.

Porque, de uma forma ou de outra, não sabemos até quando – já diziam Elis e Freddie Mercury, escolha o seu preferido -, o show tem que continuar.

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