Há dias em que tudo se resume a faltas.

A falta que faz um sorriso, uma voz, um abraço, um ombro, uma conversa num bar qualquer em meio ao caos da cidade.

A falta que faz uma companhia, os trocadilhos infames, contar e rir de novo das mesmas histórias.

A falta que faz saber que se faz falta.

Há tantas faltas, tantos pedaços ausentes, tantas incompletudes buscando ser preenchidas.

Falta tempo, falta dinheiro, falta o açúcar que a gente esqueceu de comprar.

Faltam palavras, faltam aquelas mensagens no meio da noite, falta um pouco de atenção aqui e acolá.

E por mais que a gente tente compensar uma falta com um outro excesso, no fim vira tudo uma bagunça e absolutamente nenhuma peça se encaixa.

Tem dias em que tudo o que nos rodeia é ausência. As únicas cores que vemos são as da saudade, e todos os sons que ouvimos soam como silêncio.

Essas tantas faltas, sucessivas, incessantes, parecem ir se solidificando, decretando de uma vez por todas que a partir de agora a vida sempre será assim, sempre faltará um pedaço, sempre haverá o vazio, e a única coisa abundante será a solidão.