Destranca o carro. Entra no carro. Põe o cinto de segurança. Dá a partida. Liga o som. Engata a ré. Disterce o volante todo para a esquerda. Arranca. Freia. Disterce o volante de volta. Engata a primeira. Arranca. Para no portão. Abre o portão. Sai. Fecha o portão.
Faz todo o seu trajeto no mesmo automatismo. Para nas preferenciais. Liga a seta para virar.
Chega ao trabalho. Estaciona o carro. Tranca. Trabalha. Volta para o carro. Abre o carro. Entra no carro. Põe o cinto de segurança. Dá a partida. Repete todo o processo mecânico anterior.
Faz o seu caminho sem prestar atenção nos detalhes. Há carros estacionados. Há outros carros transitando. Há pedestres – não se atenta aos rostos. Há ciclistas. Há pessoas passeando com seus cachorros. Há pessoas entrando e saindo dos comércios.
Não vê a paisagem. Não presta atenção na música que toca no rádio. Nada chama a atenção. Nada se destaca na multidão. Todos são borrões. As cores são todas cinzas. Nem para para pensar que trajeto fez. É o mesmo de sempre. É tudo sempre igual. Não precisa pensar. Não precisa sentir.
Volta para casa. Organiza as coisas. Toma banho. Come. Dorme. Acorda. Se arruma para o trabalho. Apenas mais um dia igual aos outros. Apenas mais 24 horas no piloto automático.