Desaparecendo


Às vezes, tenho a sensação de que estou desaparecendo aos poucos. Que, tal qual uma fotografia diante do poder implacável do tempo, estou esmaecendo.

Sinto-me apagada, desbotada, enfraquecida, como uma chama tremeluzente quando o combustível está chegando ao fim.

A luz, fulgurante, que eu sempre emanei, agora dá lugar à penumbra.

Sinto que me olho e não me vejo – e que tampouco os outros me veem.

O brilho dos meus olhos deu lugar a uma retina opaca e inexpressiva.

Sou como aquele item guardado no fundo de uma estante, que já não tem serventia e só está ali ocupando espaço e pegando poeira. Como aquele livro que todo mundo já perdeu o interesse em ler.

Sinto-me terrivelmente quebrada. Como se, de tantas rachaduras, não fosse mais possível colar meus pedaços e agora eu tivesse começado a esfarelar.

Eu, que sempre fui tão colorida, estou me sentindo, a cada dia que passa, mais monocromática. Eu, que sempre fui tão verborrágica, estou, gradativamente, tornando-me monossilábica.

Sempre acreditei que a vida é fluida e que temos de ser como a água, que contorna todos os obstáculos. Mas, desta vez, estou apenas escorrendo pelo ralo mesmo – enquanto a vida me escorre pelos olhos.


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