Para muitos de nós, que estamos confinados em causa, em boa parte do tempo a sensação pode ser a de que estamos com a vida em pause.
Afinal, todos os nosso planos, sonhos, desejos, metas terão que ficar para depois. Fomos abruptamente arrancados de nossas rotinas e trancafiados em casa, com pouquíssima ou nenhuma previsão de quando a vida voltará “ao normal”.
Muita gente está ansiosa por voltar a sair de casa, retomar suas atividades normais e deixar essa preocupação toda para trás. Com exceção de quem realmente está desesperado pois não pode trabalhar em home office e as contas não esperam, há uma boa parcela da população que simplesmente quer sair porque é como se ficar em casa fosse um sacrifício absurdo.
Mas, hoje me peguei refletindo cá com meus botões: não há de haver vida dentro de casa? Passar mais tempo com nossas famílias, com nossos animais de estimação, poder apreciar uma refeição fresquinha feita em casa e ouvir nossas músicas favoritas não é vida?
Como é possível que não consigamos enxergar pequenas coisas que, mesmo dentro de casa, são tão preciosas e significativas?
Eu sei que o mundo é lindo e vasto e temos ânsia em conhecê-lo e explorá-lo; eu sei que os abraços dos amigos fazem uma falta absurda; eu sei que marcar um encontro num lugar bacana é um programa pra lá de instigante.
Mas, ter tempo para – finalmente – desafogar aquela lista de leituras, por em dia as faxinas há tanto postergadas, voltar a estudar naquele curso online abandonado… nada disso vale a pena?
Óbvio que, aqui, me refiro a um recorte muito pequeno da população, de quem tem emprego garantido e não vai morrer de fome por causa disso – porque compreendo cem por cento as angústias de quem não tem esta opção. Mas, às vezes, tenho a sensação de que são exatamente as pessoas mais privilegiadas as que mais estão reclamando.
Porque não sabem abrir mão de seus luxos, de suas compras fúteis, de sua vida social badalada. Enquanto o mundo clama por repensarmos nossas prioridades e preservarmos a vida – a nossa e, consequentemente, a de todos ao nosso redor -, tem gente fazendo birra porque não pode ir para o bar, para a academia, para a praia; porque não pode ir ao salão fazer a unha, ou porque não tem onde usar a roupa nova.
Não que eu seja uma misantropa que não veja graça em nada nem em ninguém. Longe disso. Mas, acredito que, neste momento, ter paciência e ressignificar algumas das coisas do nosso cotidiano é um exercício que devemos por em prática. Urge olharmos para dentro e refletirmos sobre nossas prioridades.
Voltar à vida normal pode, sim, esperar. Mas, para isso, é preciso que haja uma vida.