Desde muito novinha – sinceramente nem sei com que idade comecei -, como uma boa habitante da escaldante Foz do Iguaçu, eu tenho o hábito de tomar tereré (ou, como dizemos por aqui, tererê).
A bebida, de origem guarani, é tomada gelada, a partir da infusão na erva-mate. Limão e hortelã são opcionais (que eu adoro, aliás). Aqui em Foz, adquirimos este hábito de nossos hermanos paraguayos, e é quase impossível circular pela fronteira sem avistar uma rodinha compartilhando o mate. Mais que uma bebida, o tereré é um aspecto cultural da região.
Da mesma forma, o chimarrão, um dos maiores símbolos da cultura gaúcha, é bem popular aqui nas redondezas. Aqui em Foz do Iguaçu, o “chima” também ocupa lugar de destaque em interações sociais de boa parte da população. Mas o mate, na verdade, não é exclusivo dos habitantes da República Rio-grandense, e é também muito popular em países como Argentina, Uruguai e Chile, um importante legado de culturas indígenas da América Latina. Além disso, o Paraná é um importante produtor da ilex paraguariensis, erva que teve sua própria importância histórica e econômica para a região.
Eu também não me lembro com que idade e nem por que comecei a tomar chimarrão, uma vez que minha família não é gaúcha e nunca teve este hábito – com exceção da minha avó, que já faleceu há muito tempo. Mas sei que tanto o tereré quanto o chimarrão têm me acompanhado ao longo dos anos. O tereré, claro, no verão; o chimarrão, assim que as temperaturas começam a cair um pouco.
Porém, como disse acima, ambas as bebidas costumam ser tomadas em grupos. A “roda de chimarrão” é sagrada para os mais tradicionalistas.
Ou era.
Em tempos de isolamento social, não se recomenda o compartilhamento de bebidas e, consequentemente, de saliva.
Para algumas pessoas, talvez não faça sentido consumir tereré ou chimarrão sem companhia, e este pode ser um desafio momentâneo. Para mim, não apenas faz sentido como até prefiro. Estar com outras pessoas nunca foi condicionante para que eu enchesse minha cuia – ou guampa – de erva e saboreasse meus mates.
Há mais de um mês confinada em casa, mantenho pequenos rituais que me fazem companhia. O café, é claro, sagrado toda manhã. Ao longo do dia, uma garrafa térmica de água quente e uma cuia com erva mate têm me ajudado a atravessar esse período.
Se me sento para ler, trabalhar ou assistir à televisão, é quase certo que o mate estará ao meu lado – e agora ele ganhou mais importância do que nunca.
Há quem não veja graça nem em uma bebida nem na outra. E, a estes, eu digo: tereré e chimarrão não são apenas bebidas. A ilex paraguariensis também pode ser, em determinados contextos, sua melhor amiga.