Hoje tenho um pedido inusitado a te fazer: me faça chorar.
Me ajude a extravasar toda essa angústia acumulada em meu peito, esse nó na garganta que não desata, essa sensação de desolação iminente.
Dispare em mim suas palavras mais pesadas, que confirmem todas as minhas suspeitas, que não deixem brecha para a esperança, nem uma fagulha que possa ser reacendida com um sopro.
Desfira, de uma vez, o golpe de misericórdia, e acabe com esse meu lamento mudo e dolorido, com essa fase terminal que há tanto se prolonga.
Expulse de mim todas as suas lembranças boas, a vontade de ouvir a sua voz ou de segurar na tua mão.
Me faça sentir raiva de você, me mande embora, me insufle de rancor como impulso para partir.
Não alimente mais minhas fantasias, nem cultive meu afeto. Não me olhe com essa ternura fraternal e condescendente.
Me faça chorar, pela última vez. Me proporcione aquele choro desesperado, penoso, quase incessante, que esgote todas as minhas forças.
Porque esse choro é tudo que eu preciso para me libertar.